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O que são os cães de “raça cruzada” e porque estão a tornar-se populares

Nos últimos tempos, os cães de raça cruzada, resultantes do cruzamento de raças oficiais, têm ganhado popularidade.



O que entendemos por raças caninas? Geralmente considera-se que um cão é de raça quando se ajusta a determinados padrões físicos definidos pelos clubes oficiais de criadores. Segundo a Federação Cinológica Internacional (FCI), existem cerca de 360 raças reconhecidas oficialmente.


A classificação habitual divide os animais entre cães de raça e rafeiros. No entanto existe um termo intermédio: raças cruzadas ou crossbreed, que embora sejam uma mistura, resultam de cruzamento planeado entre animais de raças oficiais. A sua popularidade está em alta, e especialmente como animais de trabalho, assistência e terapia.


O QUE É UM CÃO DE RAÇA CRUZADA


Um cão de raça cruzada resulta do cruzamento planeado entre dois animais de raças reconhecidas oficialmente. Não é uma raça oficial, pois, para tal, a reprodução teria de ser entre animais da mesma raça, mas se ganhar popularidade suficiente e começarem a cruzar-se entre si, podem vir a ser reconhecidas oficialmente: raças que são hoje populares foram consideradas mistas inicialmente, até haver indivíduos suficientes para se iniciar a sua criação.

Os cães de raça cruzada são diferentes dos rafeiros em dois aspectos. O primeiro é que os rafeiros normais costumam ter ascendências muito variadas, enquanto as raças cruzadas se limitam a juntar duas ou, no máximo, três raças oficiais diferentes. O segundo é que, no caso dos crossbreed, as raças progenitoras são seleccionadas intencionalmente para obter animais com determinadas características: por essa razão, são também conhecidos como “cães de design”.

Inicialmente, os cães de raça cruzada foram criados por razões práticas: os primeiros cruzamentos eram animais de caça que procuravam unir as características de duas tipologias distintas, como os perdigueiros (pelo seu excelente olfacto) e os galgos (pela sua grande velocidade), ou cães de guarda, que cruzavam mastins com raças de grande porte para os tornar mais corpulentos. Além disso, estes indivíduos costumavam ser mais resistentes às doenças devido à sua bagagem genética mais diversificada.

Nas últimas décadas, começaram a criar-se raças cruzadas como cães de trabalho para pessoas com alergias: com efeito, as primeiras raças cruzadas modernas foram cruzamentos entre caniches, pois uma das características desta raça é só perder pêlo, sendo por isso mais bem tolerados pelas pessoas alérgicas. O exemplo mais claro é o labradoodle – cruzamento de labrador com caniche – criado na década de 1980 na Austrália para substituir os labradores como cão-guia nos casos em que a pessoa cega tivesse problemas de alergias (embora rapidamente se tenha descoberto que apenas uma percentagem destes cães é realmente hipoalergénica).

Com o passar do tempo – e quando se tornam suficientemente populares – algumas raças cruzadas acabam por ser reconhecidas como oficiais. É o caso, por exemplo, do pointer inglês ou do golden retriever, que nasceram como cruzamentos de raças caçadoras. No entanto, um requisito para passarem a ser consideradas “raças puras” é que se cruzem entre si, enquanto o que caracteriza os crossbreed é terem progenitores de raças diferentes.

A maioria das raças cruzadas populares receberam o seu próprio nome, que resulta da união dos nomes das duas raças progenitoras: por exemplo, o labradoodle (labrador e poodle), Pyrador (Grande Pirenéu e labrador), cockapoo (cocker e poodle) ou goldador (golden retriever e labrador).


ESPERAR O INESPERADO


Uma das características que faz com que os cães de raça cruzada não sejam reconhecidos como raças oficiais é que o seu aspecto pode variar muito, sobretudo no caso do cruzamento de raças fisicamente muito distintas: podem parecer-se mais com um dos progenitores ou não se parecer com nenhum deles. É, por isso, muito difícil estabelecer um padrão, que é precisamente o que define as raças oficiais.

Outro aspecto difícil de prever é a personalidade. Cientificamente falando, a raça só define cerca de 10 por cento da personalidade de um cão, que é maioritariamente determinada pelos seus progenitores específicos e pela socialização. Mesmo assim, as raças com características comportamentais muito vincadas (como os cães territoriais ou com muita energia) tendem a transmiti-las à sua descendência. O problema é que, quando são raças muito diferentes, torna-se difícil prever qual dos progenitores o cachorro vai imitar.

Muitas pessoas apreciam os crossbreed como mascotes precisamente pela sua personalidade imprevisível: tal como os rafeiros, costumam ser animais com uma personalidade única e diferenciada. Contudo, isto pode ser um problema no caso dos animais de trabalho, já que, nesses casos, se pretende cruzar indivíduos com uma personalidade semelhante.

Costuma dizer-se que uma vantagem dos animais rafeiros é serem mais saudáveis e viverem mais anos do que os de raça, pois a sua variedade genética é maior. No caso dos crossbreed, isso acontece até certo ponto: podem ter menos probabilidades de sofrer problemas hereditários, mas a sua saúde dependerá da saúde dos seus progenitores; se estes passarem pelos controlos pertinentes antes de procriar, a sua descendência cruzada não será, por omissão, mais saudável do que se resultassem da criação com outro indivíduo da sua própria raça.

A popularidade dos cães de raça cruzada tem vindo a aumentar como mascotes, mas sobretudo como cães de trabalho – em particular, de terapia e assistência devido à sua condição hipoalergénica. Contudo, as faculdades de veterinária advertem para o facto de poderem sofrer dos mesmos problemas que os cães de raça, nomeadamente criação ilegal e problemas de saúde. Wally Conron, o “criador” do labradoodle, disse, em 2019, que se arrependia de o ter feito porque abriu a porta à criação irresponsável e ao nascimento de muitos animais com problemas de saúde e comportamento.

Do ponto de vista médico e ético, existe o risco real de os cães de raça cruzada se tornarem uma moda, como já aconteceu com algumas raças (como o próprio labradoodle). E a personalidade imprevisível dos cruzamentos entre animais de temperamento muito diferente faz com que sejam, por vezes, difíceis de gerir, aumentando o risco de abandono dos animais.

Para prevenir estes problemas, as legislações de muitos países estão a tornar-se cada vez mais estritas em relação à criação de cães, exigindo que os animais reprodutores passem por controlos de saúde, tenham um número limitado de ninhadas por ano e que os cachorros sejam socializados correctamente, para promover o desenvolvimento de uma personalidade equilibrada.


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